Vivemos uma situação política incerta no país, onde cada dia surge uma reviravolta diferente e a economia acaba sempre por sentir o impacto dessas mudanças. Em 1993, a situação era parecida com a atual, mas com um fator agravante, vivíamos uma economia super inflacionária. A nossa moeda estava tão desvalorizada que os preços dos produtos nos supermercados eram remarcados, e ficavam mais caros, mais de uma vez ao dia. É nesse contexto que surge o Plano Real, com a proposta de trocar essa moeda desvalorizada, o Cruzeiro Real, por uma moeda nova, o Real.
Real – O Plano por trás da História se propõe a contar os bastidores da criação desse plano e sua implantação sob o ponto de vista de Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto), um crítico feroz da política econômica adotada pelo governo brasileiro naqueles anos, que resultou no cenário de hiperinflação. Opositor de políticas de cunho social, ele é adepto de um choque fiscal de forma que seja criada uma moeda forte, que devolva a dignidade aos cidadãos. Quando o presidente Itamar Franco (Bemvindo Siqueira) nomeia Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo) como o novo Ministro da Fazenda, Gustavo é convidado a integrar uma força-tarefa, cujo objetivo é criar um novo plano econômico.

Apesar da premissa interessante, a escolha de focar em Gustavo Franco, sua arrogância e megalomania, atrapalha o desenvolvimento da história do plano real, que acaba se tornando mero plano de fundo para o que de fato é abordado: como Gustavo “criou” o plano e conseguiu se tornar presidente do Banco Central. Tudo isso falado em economês e de forma bem vaga, com a intenção de confundir o espectador para que ele não perceba que está perdendo partes da verdadeira história.
Além disso, o filme tem bastante enfoque na política. É impossível não notar a polarização PT X PSDB retratada em tela. Os dois partidos são representados de forma um pouco exagerada e caricata, principalmente o PT (não sei se foi essa a real intenção, ou se é ingenuidade da minha parte). Isso pode fazer com que muitos enxerguem o filme como partidário e de direita. Há vários momentos em que o cenário político retratado dialoga diretamente com o cenário político atual, por exemplo, ao falar de: corte de medidas sociais para melhorar a economia, impeachment (que também era o cenário da época), golpe e juiz Sergio Moro (nesse caso, na parte do filme que se passa em 2003, na CPI do Banestado), entre outros.
Emílio Orciollo Neto, que dá vida a Gustavo, realmente está incrível no papel, consegue passar toda arrogância, ambição e cinismo do personagem, mas também deixa ver que essa é só uma casca, que tem mais ali dentro do que ele deixa transparecer. Diante de tal protagonista, o resto dos personagens acabam se tornando tão insignificantes que as atuações passam despercebidas e sem grandes destaques.

O fime é uma superprodução para os padrões nacionais. O clima em tela é sempre intenso, muito devido ao próprio personagem central e a trilha sonora marcante. O elenco é repleto de grandes nomes, além de Neto, Siqueira e Rizzo, ainda conta Paolla Oliveira, Mariana Lima, Tato Gabus Mendes, Juliano Cazarré, Cássia Kis Magro e Klebber Toledo, entre outros. E, pra finalizar, possui a bela arquitetura de Brasília como seu cenário principal.
A história é baseada no livro 3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão, de Guilherme Fiuza. É importante ressaltar que Real – O Plano por trás da História se trata uma obra de ficção inspirada em fatos reais, mas sem nenhum compromisso com a realidade.
NOTA: 6,6
Lançamento: 25 de Maio de 2017
Direção: Rodrigo Bittencourt
Roteiro: Mikael de Albuquerque
Gênero: Drama / Histórico