Neve Negra é um drama argentino que conta a história de um homem que volta para sua cidade, com sua esposa, em busca de fechar um negócio que lhe dará muito dinheiro. Porém, essa mesma transição é dificultada pelo fato de que o terreno a ser vendido está nas mãos não só dele, mas também de seus irmãos, sendo um deles uma figura ríspida e totalmente contra a venda. A trama do filme nos faz pensar que será uma história interessante, de conflitos de gênio e tensão psicológica. Neve Negra não é isso, é muito mais.
O público pode se atrair pela ilustre presença de Ricardo Darin, que faz o personagem de Salvador, porém é a bela Laia Costa (Laura) que surpreende aqui. No início da obra, nos pegamos imaginando que rumo a história tomará. Para aqueles que foram ao cinema sem maiores informações sobre a trama, logo é formada a ideia de que Laura, a esposa de nosso protagonista Marcos (Leonardo Sbaraglia), será apenas mais uma peça acessória para a formação e desenvolvimento de um todo.
Entretanto, o que se passa é que Laura vai evoluindo aos poucos, até se tornar uma personagem que, além de bem explorada pelo roteiro (roteiro que nos passa a impressão de um preciosismo comedido), é diferente da nossa ideia inicial, e nos surpreende com suas falas cortantes e atos inesperados. Sua relação com Marcos é um caminho bem trilhado ao longo do filme, que nos parece ser mútua e ideal, mas que com o passar do enredo, nos abre para uma série de questionamentos. Portanto, o roteiro é muito bem escrito, passando por um início que nos dá um pouco de incerteza sobre aquilo tudo, mas logo nos encaminha, de maneira sólida, para digerir uma história que, ao mesmo tempo que se mostra interessante, nos dá a impressão de que algo sempre está nas sombras. Nesse quesito, o longa é um exemplo de suspense psicológico que nos deixa nervosos e intrigados com tudo aquilo, dando para os fãs de um cinema de mistério um prato cheio para se deliciar.

A história, então, se desenvolve de jeito majoritariamente linear (a linha temporal segue de maneira a ser interrompida apenas por flashbacks, que se misturam, de maneira sutil e quase poética, com o que é apresentado no momento). Nessas horas somos presenteados com um dos recursos do cinema que mais se encaixam para tal tipo de filme, que é o uso da câmera em plano sequência (sem cortes) combinado com um fundo instrumental, que ajuda a criar a atmosfera de tensão e medo que paira ali durante toda a produção. O trio principal do filme se relaciona de uma maneira travada, mas que é proposital, pois a situação em si é muito delicada e qualquer falha pode causar uma avalanche. E é isso que ocorre. Porém, mais detalhes não podem ser revelados (o ideal é ir ao filme sem nenhuma ideia do que se passa em tela).
Tecnicamente, a fotografia casa com a áurea de mistério. Cores escuras, baixa luminosidade e uma saturação leve ajudam a criar toda a perspectiva que é proposta de perigo eminente. É notada a presença de alguns planos abertos muito amplos em determinados momentos específicos, como a hora em que Marcos adentra a propriedade a ser vendida: a câmera se amplia de tal maneira a poder mostrar-nos o quão gigante é tudo aquilo, talvez com um objetivo também de criar uma ideia de potência e importância para tal visita. Raros momentos apresentam uma palheta mais forte, entretanto são presentes, como no momento em que Marcos visita sua irmã. Outro aspecto técnico é o uso de uma trilha sonora que acompanha o que está ocorrendo, que se mostra apenas de vez em quando, mas que é certeira em seus atos (por exemplo: em momentos tensos, batidas de um coração acelerado são adicionadas).

Em relação às atuações, todos estão bem, com destaque intenso para Laia Costa, que sabe levar sua personagem a um patamar memorável. O ilustre Ricardo Darin também não desaponta, e Leonardo Sbaraglia sabe representar o homem inseguro e conflituoso que é lhe imposto. A duração do filme é quase ideal, exceto com alguns momentos mais parados no meio da trama, que, todavia, são necessários para a criação do contexto e a transmissão da mensagem proposta (tais momentos podem desagradar a um público que prefira mais ação e não tenha muita paciência).
Em geral, o filme vale muito a pena, e como citei a pouco, talvez não agrade a todos, mas certamente aqueles que gostam de um drama bem construído e enredos que surpreendam, sairão muito satisfeitos com a produção. Poucos são os pontos negativos, sendo um dos melhores dramas/suspenses psicológicos argentinos dos últimos tempos.
Nota: 9,0
Nome Original: Nieve Negra
Lançamento Nacional: 8 de Junho de 2017
Direção: Martin Hodara
Roteiro: Martin Hodara/Leonel D’Agostino
Gênero: Drama/Suspense psicológico
Distribuidora: Paris filmes
Almir Cota
07/06/2017 at 10:34
A crítica nos deixa com água na boca, aquela vontade de correr para o cinema mais próximo e mergulhar no filme.
Parabéns, mais um que devo assistir.
Livia Corcino
07/06/2017 at 10:37
Siiim! Vá mesmo.