O medo e expectativa que pairavam no ar sobre a estreia de Animais Fantásticos e onde habitam, podia ser comparada a expectativa feita em torno da estreia de Star Wars, episódio I, onde após vários anos uma franquia repleta de fãs teria seu universo expandido. Bem, guardando suas devidas proporções, era esse o sentimento visto nos olhares dos potterheads que assistiram à sessão comigo.
Animais Fantásticos é sim um filme do universo mágico, o mesmo Universo de Harry Potter, porém não se anime, não veremos Hogwarts, não veremos a família Potter ou qualquer alusão, o filme aqui se propõe a ir mais fundo, a de fato ir mais longe, criar outra parte deste Universo encantador.
Acompanhamos a chegada, do magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne), à cidade de Nova York levando com muito zelo sua preciosa maleta, um objeto mágico onde ele carrega fantásticos animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens pelo mundo. Newt precisará usar todas suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo. Porém engano seu se acha que o filme irá contar apenas histórias das criaturinhas mágicas.
O roteiro, escrito pela criadora do Mundo Potter não subestima capacidade de seus fãs em já conhecerem muitas das nuances, feitiços e palavras desse ambiente, que fora apresentado 15 anos atrás. Por isso J.K. Rowlling consegue criar uma ótima atmosfera para contar suas histórias e divertir o público, apesar de que este filme não alcança a magnitude que A Pedra Filosofal teve em 2001. O roteiro conta com alguns clichês, obviedades e atalhos para movimentarem a trama, e mesmo não subjulgando seu público ainda há dois ou três diálogos expositivos demais.

As relações criadas pelo quarteto formado pelo próprio Newt, as irmãs bruxas Tina (Katherine Waterston) e Queenie Goldstein (Alison Sudol) e o não-maj (trouxa) Jacob (Dan Fogler), são bem formadas pelo roteiro, que aparenta ter uma pressa desnecessária, mas que depois é perdida, pelo fato deles estarem correndo atrás de criaturas mágicas e indo e vindo do mundo mágico na presença de um trouxa, isso faz com que as reações e as relações sejam construídas. Talvez o ponto negativo aqui seja que o grupo nunca de fato cria uma harmonia perfeita, a divisão em dois pares cria uma superficialidade.
Já quando somos apresentados aos Animais Fantásticos, nos maravilhamos, a apresentação na telona é suave, na velocidade certa, sem afobação de mostrar 500 criaturas, mas com a precisão de empolgar e encantar o expectador. O CGI e o design dos animais estão muito bem feitos, eles têm peso, tem profundidade, de fato parecem estar vivos.
No segundo ato, quando o filme vai para uma parte mais investigativa, a trama principal dá lugar a uma subtrama, bem mais séria e obscura que a primeira, a história perde um pouco de ritmo, fica mais lento e temos uns 20 minutos de filme, onde a monotonia queria tomar conta, entretanto esta subtrama ganha imponência, força e funciona, trazendo até mensagens sobre maus tratos e fanatismo religioso, mas são pouco explorados.
A direção de David Yates é bem concisa e confortável, o fato dele ter dirigido os últimos quatro filmes da saga original, faz como que ele tenha completo controle sobre a forma de filmar e usar ação mágica, porém em algumas cenas, a zona de conforto talvez pese, já que há alguns enquadramentos preguiçosos. A cinematografia é muito bela e elegante, os tons das cores juntamente com a escolha do figurino clássico dão um verdadeiro tom de época.
As atuações variam bastante. Como já virou redundância, o britânico Eddie Redmayne cria um personagem amável e desajeitado, mas que se entrega completamente aos seus animas, há uma cena em que Newt Scamander dança do acasalamento, e talvez qualquer outro ator transformasse esse cena em algo constrangedor, mas Redmayne transforma em algo bom. Katherine Waterson cria um ótimo conflito para sua personagem, a Tina, que demonstra muita impaciência, ela definitivamente não é uma mulher que curte esperar o que quer. Erza Miller (Credence) é quem move a subtrama obscura do filme, a graças a ele que essa parte funciona, o movimento corporal e tom de voz são perfeitos para o exigido aqui. Collin Farrell (Percival Graves) está muito bem, é um louco maníaco que consegue incorporar o papel de badass. Dan Fogler, que interpreta o trouxa Jacob, está muito bem, é o alívio cômico do filme e diria que suas reações a universo mágico te dão certa nostalgia dos primeiro filmes, diria que 70% do humor funciona. Alison Sudol, a Queenie, passa um pouco despercebida, apesar de que faz um papel ok.
Animais Fantásticos e onde habitam é sim um filme bem nostálgico, onde por diversas vezes te faz querer voltar a Hogwarts, mas não é um filme que só pensou no lucro, o objetivo principal aqui não é ganhar dinheiro, o Universo avança, há novos elementos, há muita coisa guardada também para futuros filmes. Ele diverte, empolga e mesmo com falhas é sim uma ode aos fãs do menino bruxo.
Nota: 7,1
Nome Original: Fantastic Beasts and Where to Find Them
Lançamento: 17 de Novembro de 2016
Gênero: Fantasia/Ação
Diretor: David Yates
Roteiro: JK Rowlling
Distribuidora: Warner Bros. Entertainment