Lançado em 2016, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o filme Colossal finalmente chega às salas de cinema do Brasil. A produção, que chegou a enfrentar problemas judiciais logo no inicio de suas filmagens por usar cenas do filme Godzilla para apresentar o filme aos investidores, consegue divertir e surpreender o espectador em meio a uma história que pode parecer, para muitos, bem fraca e sem propósito. Quem lê a sinopse e/ou assiste os trailers do filme pode até se enganar pensando que se trata de mais uma comédia ruim, com um toque de sci-fi e meio trash, mas a trama desenvolvida é bem mais sutil e reflexiva.
Em Colossal, Gloria (Anne Hathaway) deixa Nova York e volta para sua cidade natal após perder o emprego e o noivo. Ao acompanhar as notícias sobre o ataque de um lagarto gigante a Seul, na Coréia do Sul, ela descobre que está misteriosamente conectada ao evento. Para evitar novos casos parecidos, Gloria precisa aprender a controlar essa conexão.

Logo de início, a trama já deixa bem estabelecida a personalidade descompromissada de Gloria e sua tendência ao alcoolismo. Também somos apresentados a Oscar (Jason Sudeikis), seu melhor amigo de infância, que, a princípio, parece ser um pouco apaixonado por ela. Esse desenvolvimento leva a crer que se está assistindo uma comédia romântica, até que ocorre uma virada na história e você se encontra preso em uma espécie de suspense, ainda com tons de comédia, mas bem mais pesado e sério do que antes.
O trabalho do diretor e roteirista, Nacho Vigalondo, é muito bom e te envolve de forma que uma hora você está rindo e em outra está apreensivo com os rumos tomados. Os ângulos e posicionamentos de câmera são muito bem pensados e complementam o filme de forma bem inteligente. Além disso, a forma como ele usa a conexão da personagem com o lagarto gigante é excelente, porque o monstro, apesar de estar sempre presente na trama, acaba por não ter tanto espaço de tela. Nas cenas chaves, o brilho é todo dos atores, que nos brindam com grandes performances.
Anne Hathaway é uma atriz reconhecida por seu trabalho sempre cheio de grandes atuações, sendo assim, não surpreende que seu desempenho neste filme seja mais uma vez excelente. Quem também está muito bem em seu personagem é Jason Sudeikis, o ator consegue contrapor muito bem sua performance à de Hathaway, de maneira que nenhum se sobrepõe ao outro. O elenco também conta com Dan Stevens como Tim, Austin Stowell como Joel e Tim Blake Nelson como Garth.

O filme, de certa forma, pode ser um pouco de associado a questão do empoderamento feminino. Não que Gloria seja um exemplo de mulher empoderada, porque não é, passa longe disso. Na verdade ela é exatamente o oposto, imatura, baixa auto-estima, se deixa manipular pelos homens ao seu redor. Inclusive ela é o único personagem feminino do filme, o que deixa essa espécie de “submissão” aos homens mais evidente. Porém, sua trajetória demonstra o crescimento e amadurecimento da personagem e culmina em uma sequência final cheia de simbolismos, na qual ela enfrenta esses personagens que tentam manipulá-la, retomando, assim, o controle de sua vida.
A revelação do mistério da conexão entre ela e o monstro é bem mística, mas funciona dentro da proposta do filme. Em geral, os efeitos são bons, mas em alguns momentos deixam a desejar, principalmente durante a última sequência de Oscar. Outra coisa que pode gerar um certo incomodo é o fato de que em algumas cenas fica visível a gravidez da atriz Anne Hathaway, que estava em seu segundo trimestre de gestação durante as gravações do filme.
Colossal é um filme para ser pensado e que pode gerar muitas interpretações, pois muito do que está no filme não é abordado diretamente em tela. O enredo bobo sobre a conexão entre personagem e monstro é apenas um meio utilizado para levantar e inserir questões bem mais relevantes, estas sim são o ponto principal em que o filme quer chegar. Com certeza não será um sucesso de público, mas cumpre seu papel em nos fazer refletir os problemas apresentados.
Nota: 7,0
Lançamento: 15 de junho de 2017 (Brasil)
Direção: Nacho Vigalondo
Roteiro: Nacho Vigalondo
Gênero: Comédia / Ação / Drama / Ficção científica
Distribuidora: PARIS FILMES