Filmes que contam muitas histórias diferentes dentro dele mesmo, ou tendem ao fracasso devido à dificuldade de se montar um roteiro que agrupe e se torne coeso, ou ele se alto declara episódico como Relatos Selvagens (2014). O diretor Tom Ford demorou sete anos para voltar a fazer um filme, e nesse tempo buscou amadurecimento artístico para obras cinematográficas.
Animais Noturnos acompanha Susan (Amy Adams), uma negociadora de obras de artes que vive em um casamento aparentemente infeliz. Então ela recebe um manuscrito de um livro, chamado Animais Noturnos, de seu ex-marido Edward (Jake Gylenhaal). O livro que acompanha, por sua vez, um homem que leva sua esposa (Isla Fisher) e filha (Ellie Bamber) para tirar férias e são acometidos por trágicos acontecimentos. Durante a leitura, Susan relembra da sua época junta de Edward, revive algumas lembranças e sofre intensamente com as emoções que a leitura lhe causa.

Inicialmente em Animais Noturnos temos a sensação de estarmos perdidos, já que o filme já começa exatamente com a mesma estrutura de roteiro que o restante. São flashbacks sobre Susan e Edward, dramatização do livro e cenas do presente também sobre Susan. Tudo muito bem feito, mas que pode causar alguma confusão nos mais desatentos, porém é bastante instigante a forma de como o filme é montado. A edição não peca, são constantes “match cut’s” (são corte que aproveitam a semelhança entre as cenas para fazer com que a transição seja suave), todos usado com muita precisão. Outro tipo de corte bastante utilizado é o de fazer transições para fundos pretos, o que reforça a melancolia e certa obscuridade que o roteiro nos passa.
São três histórias distintas, com personagens diferentes e que de certa forma tem ligações entre si, mesmo que nenhuma aconteça ao mesmo tempo. A montagem é brilhante nessa parte, nós nunca somos pegos de surpresa pela mudança de história, essa mudança é delicada, nada abrupto para não confundir o público. Porém não é só a montagem que é responsável por isso. Penteados e maquiagem, muitas vezes menosprezados pelo público geral, nesse filme cumprem um papel perfeito, pois com já disse, os cortes usam muito as semelhanças entre os planos e então apenas uma variação de cabelo e maquiagem de atriz para atriz, de ator para ator, indica de que história estamos falando.
Em relação ao roteiro, Animais Noturnos manda bem outra vez. O roteiro constrói bastante camadas para quase todos os personagens. Susan por ser a protagonista é a mais instigante e provocante, mas Edward também atrai bastante atenção. O filme te ludibria perfeitamente, mas não de uma forma que te faça sentir enganado, o roteiro lhe aponta uma direção que parece caminhar para um final “X”, mas na verdade chegar até esse final “X” nunca foi a intenção real, e isso foi o tempo todo indicado ao longo das cenas, entretanto, o roteiro não se expõem para tal.

A direção do Tom Ford é altamente técnica, ele é um diretor que prima muito pela estética das ambientações e aqui ele mais uma vez consegue cumprir seus objetivos. Edição e montagem são comandados com maestria. O uso das câmeras é elétrico, vivo e intrigante, em alguns momentos fazem dois personagens parecerem apenas um. Tudo muito belo e simples.
As atuações são todas boas. Isla Fisher faz a mulher do protagonista do livro, uma atriz muito parecida fisicamente com a Amy Adams, o diretor consegue usar isso muito bem e tal decisão é muito divertida. Ela transmite o real senso de urgência no drama que sua personagem passa. Assim como Ellie Bamber, jovem atriz que faz o papel da filha do casal protagonista do livro. Jake Gylenhaal mais uma vez é praticamente impecável, talvez alguns excessos de maneirismos possam ser evitados, no mais ele foi muito bem. A Amy Adams é deslumbrante, cada vez mais madura nas atuações, mais convincente, mais inteligente em atuar de maneira calma e eficaz, mas o destaque do filme fica para Aaron Taylor-Jonhson, o ator interpreta o vilão do filme e dá alma ao personagem, uma loucura contida, um olhar paranoico e um jogo de corpo sensacional, fazem jus ao fato do ator ter levado o Prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para Cinema no Globo de Ouro de 2017. Outro ator Coadjuvante que tem um trabalho incrível é Michael Shannon, ele cria um personagem louco, ácido que mostra que não tem nada para perder, o olhar é algo marcante nele.

Animais Noturnos é um filme ácido, que não irá atrair todos os públicos, mas que tem um roteiro peculiarmente sensacional, atuações de alto nível, uma direção qualificada. Todos ingredientes que tornam esse filme um espetáculo controverso dentro da sua mente.
NOTA: 9,5
Lançamento: 14 de Outubro de 2016 (Reino Unido) e 29 de Dezembro de 2016 (Brasil)
Gênero: Drama / Suspense
Diretor: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford
Distribuidora: Universal Pictures
JOAO PEDRO DA SILVA BENICIO DE OLIVEIRA
17/01/2017 at 09:58
Muito boa crítica. Assistirei quando possível
Leandro Vabo
17/02/2017 at 12:28
Obrigado João Pedro!
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