O gênero de comédia talvez seja o que mais facilmente atrai e agrada o público em geral, por conta deste fator, muitas comédias são lançadas sem se preocupar com questões técnicas de cinema. Como um bom roteiro, boas atuações, ou algo além de só ter piadas. É claro que todos somos livres para gostarmos de qualquer coisa, porém filmes como Deu a louca nos bichos (2010), Cada um tem a gêmea que merece (2011) e Se beber, não entre no jogo (2014) são exemplos fiéis do pior que a comédia pode fazer. Em “Tinha que ser ele?” a tendência era acreditar em que mais uma comédia deprimente seria feita, entretanto, venho vos dizer que não. Não chega a ser um filme brilhante, porém consegue ser engraçado, sem ser ridículo, não rimos apenas do quão bizarro são as piadas, rimos por que interagimos com os personagens e por que são piadas muito bem ambientadas, claro que como todo filme, esse também terá alguns problemas.
“Tinha que ser ele?” conta a história, clichê ,é verdade, da família de Stephanie (Zoey Deutch), indo conhecer seu namorado Laird (James Franco). Lá seu pai Ned (Bryan Cranston), sua mãe Barb (Magan Mullally) e seu irmão Scotty (Griffin Gluck), conhecem o amigo e gerente da casa, Gustav (Keegan-Michael Key). A família faz essa viagem bem no feriado de Natal, portanto muitas festas e histórias irão acontecer.

A direção do veterano em comédia Jonh Hamburg não consegue livrar o filme de alguns clichês inerentes ao gênero, porém ele tenta focar em uma relação familiar mais fidedigna do que comumente acontece. A relação pai e filha é constantemente reforçada, tendo ou não a mesma opinião, o filme pontua e faz funcionar esta relação. E isso te empurra para dentro do filme, o fazendo acreditar na relação, tornando as piadas mais cômicas ainda.
O humor é bastante sexual, há como sempre piadas envolvendo pênis, bunda e vaginas, porém como aqui existe uma intensificação nas relações pessoais, o humor sexual também é presente e por muitas vezes alivia o público de ter que ouvir sempre a mesma piada. O ritmo acelerado do filme também ajuda no início, ele monta rapidamente a dinâmica do roteiro, e novamente tornando-o mais engraçado. Infelizmente o filme perde fôlego logo após a metade, porém como já nos apegamos a história, uma possível falta de criatividade humorística não é tão ruim quanto se espera. Os momentos emotivos são repletos de humor e quase sempre interrompidos por inconveniências cômicas ou piadas, mas que não retiram o peso dramático e narrativo da cena.

O ato final do filme está longe de ser o melhor possível, porém dentro de tudo que o filme constrói para si, ele encontra uma boa saída, usando um clichê da maneira certa, que não soa agressivo com a capacidade cognitiva do seu público, ele não nos acha completos idiotas. E para quem gosta, há uma pequena participação da banda Kiss no fim.
Bryan Cranston para quem não está ligando o nome com a pessoa, é o intérprete do maior personagem dramático da história da TV, Walter White, da série Breaking Bad (2008-2013). Com isso, o ator consegue mandar muito bem em toda parte dramática, e mostra, mais uma vez, o seu lado bem humorado, assim como na série How I Met Your Mother (2005-2014), Bryan mostra que faz um humor mais sisudo, sendo o cara engraçado por ser sério. Zoey Dutch não tem muitos momentos para ser engraçada, mas faz sua relação com o pai funcionar. Magan Mullaly é pouco aproveitada, mas na única cena que lhe é dada, ela faz um show, é verdadeiramente muito engraçada. Keegan-Michael Key é ótimo, faz um louco controlado muito bem. Griffin Gluck demonstra mais potencial para o futuro do que imaginava. Agora o maior destaque está em James Franco que está ótimo, por mais que seu humor seja sexual, ele cria um personagem 100% honesto e sincero, o que dá uma relevância maior ao trabalho. Em momento algum o personagem fica chato ou repetitivo, e novamente as relações pessoais seguram o humor num nível muito bom.

“Tinha que ser ele?” é uma grata surpresa em 2017, o filme mostra que o gênero não precisa ser deslumbrantemente técnico e se render a condutas da Academia, mas que também não precisam ignorar um bom roteiro, uma boa ideia e bons atores. “Tinha que ser ele?” mostra que talvez o mais importante seja encontrar um equilíbrio entre fazer cinema e fazer rir.
NOTA: 7,0
Nome original: Why Him?
Lançamento: 16 de Março de 2017
Gênero: Comédia
Diretor: Jonh Hamburg
Roteiro: Jonh Hamburg / Ian Helfer
Distribuidora: Fox Film do Brasil