O gênero de Western ou Faroeste é para muitos cinéfilos, o que melhor representa o cinema dos Estados Unidos. O histórico de formação estadunidense é repleto de conquistas territoriais, onde os homens brancos tiveram que derrotar os povos indígenas, em épicas batalhas. Por tudo isso, esse passado ainda é muito presente em determinadas localidades do interior Norte-Americano, onde tradicionalmente a organização social é muito similar com a que eles tinham em meados do século XVIII.
O filme conta a história de dois irmãos, que ao estarem em uma situação financeira complicada, resolvem assaltar bancos da região, assim tendo uma chance de se restabelecerem. O único problema é que eles passam pelo caminho de um xerife determinado a não deixá-los escapar.
Desde o início somos apresentados a uma relação familiar tensa, diferentemente do que a sinopse possa nos passar, esses dois irmãos não têm uma relação tão harmoniosa assim, tratam-se de personalidades completamente distintas. Do outro lado, o xerife e o seu parceiro são representações opostas dos grupos étnicos que historicamente povoam o território do Texas, local onde o filme se passa. O Xerife Marcus Hamilton (Jeff Bridges) é o notório homem branco, já seu parceiro Alberto (Gil Birmingham) é descendente de indígenas, o que faz com que a relação dos dois seja pautada em pequenas provocações amigáveis, muitas vezes xenófobas. 
O roteiro é bem cuidadoso em nos passar certas informações. Vamos descobrindo-as aos poucos, em conversas espaçadas entre si, por isso, por mais que saibamos várias coisas sobre nossos protagonistas, os irmãos, o roteiro não nos entrega tudo de bandeja, muitas dúvidas ainda pairam no ar e é isso que atrai o telespectador para dentro da história.
A ambientação é fascinante, a direção faz uso constante de planos abertos, ou de tomadas que demarquem bem o fundo de onde a cena está acontecendo, para que tenhamos a real noção do cenário social e financeiro da região, onde por conta de uma pesada crise, os bancos e petroleiras estão controlando cada vez mais a vida da população.
Após diferentes acontecimentos, percebemos o quanto há de semelhante entre Toby (Chris Pine) e Tanner (Bem Foster), os irmãos ladrões de banco, e a dupla de policias. Não especificamente comparando as pessoas, mas o semelhante é a construção da relação, sempre tensa para minimizar o quanto de fato um é importante para o outro, muito por conta do contexto sociológico que os Westerns têm como marca registrada. Dentro desse contexto a direção nos brinda com cenas maravilhosamente bem montadas e editadas, onde percebemos um afinamento total na edição de som. Além disso, “A qualquer custo” não é um Westerns clássico, ele se preocupa em frisar de que não se trata de um filme de época e nem de um Western clássico, como já havia dito, entretanto há sim elementos tradicionais ao gênero, como o fato de todo personagem masculino estar armado.
A cinematografia do filme é belíssima e elegante, como já revelado nesta crítica, são muitos enquadramentos que nos revelam paisagens bonitas e que nos ajudam a entender a história. A trilha sonora é um show a parte, começa com notas calmas onde apenas se pontua introduções e mudanças de cenário, e passamos para uma trilha agressiva, alta, que eleva significativamente a tensão e a emoção do filme. 
A direção ficou por conta de David Mackenzie, e aqui já vos adianto de que tratamos de um favorito a indicação para o Oscar 2017. O jogo de câmeras é ótimo, o uso da iluminação e do sol contra as lentes é maravilhoso, as mensagens enigmáticas por trás do roteiro são perceptíveis, o filme fala de amizade, amor fraternal, família e muito mais.
As atuações são de alto nível. Jeff Bridges faz um xerife com sotaque fortíssimo, quase cartunesco e exagerado, mas na medida certa. Bem Foster está insano, ele capta a alma de seu personagem, o olhar, o tom de voz e o gestual corporal são de um homem perturbado e criminoso, também favorito a uma indicação ao Oscar 2017. Chris Pine tem uma de suas melhores atuações, melancólico sem ser piegas e verdadeiramente confuso com seus atos, o olhar nos passa isso.
A única coisa “errada”, seria que o filme em certos momentos se contem em cenas que parecem ser importantes, mas que na verdade pouco importam para a trama como um todo, e nem ao menos engrandecem algum personagem, estão por conta da estética, o que não é de fato um erro, por isso as aspas na palavra “Errada”, contudo, essa escolha torna o filme vagaroso demais em alguns momentos.
A qualquer custo é um deleite total para quem é hardcore em seus gostos por cinema, tem uma direção impecável, atuações dignas de Oscar e um roteiro repleto de boas mensagens, portanto não se assuste se as 3 indicações para o Globo de Ouro forem pouco, o Oscar ainda estar por vir.
Nota: 9,8
Título Original: Hell Or High Water
Lançamento: 12 de Agosto de 2016 (EUA) e 2 de Fevereiro de 2016 (Brasil)
Gênero: Western / Assalto / Drama
Diretor: David Mackenzie
Roteiro: Taylor Sheridan
Distribuidora: Califórnia Filmes