Os nossos hermanos argentinos, nos últimos anos, tem feitos filmes esplêndidos, destaco pelo menos 3 para quem quiser conferir depois. Relatos Selvagens (2014), Truman(2015) e O Clã (2015). Todos peculiarmente bem escritos, bem dramatizados, com direções interessantes e atuações muito convincentes. Em Dolores, a receita argentina funciona mais uma vez, porém aqui vale ressaltar que a produção é uma colaboração entre Argentina e Brasil, deixando toda rivalidade futebolística de lado.
Dolores( Emilia Attías), conta a volta pra casa de sua protagonista, homônima ao título do filme. Durante a Segunda Guerra Mundial, nossa protagonista retorna ao seu país natal. Após a morte de sua irmã, para cuidar de seu sobrinho. Na Argentina Dolores reencontra Jack (Guilherme Pfening), seu cunhado, homem com o qual na adolescência teve um amor conturbado. Ao mesmo tempo Octavio Brand (Roberto Brindelli), fazendeiro filho de alemães divide o coração da jovem moça.

Jack esperando sua vez de dançar, enquanto Octavio e Dolores estão juntos.
A temática de Guerra no início do filme é muito mais para nos ambientarmos espacial e temporalmente, do que de fato vá fazer parte da trama. O início do filme é pautado por um tom pálido e frio, já que iniciamos a trama com a morte da irmã de Dolores. Com isso o recurso utilizado pela direção de Juan Dickinson, é práticamente retirar qualquer som que não seja a fala dos atores, o silêncio no fundo, por muitas vezes é inquietante, gélido e embaraçoso, mas que funciona muito bem para tal objetivo, que é deixar mais realista e intimista o drama daquela família. O diretor faz uso de tal recurso em outros momentos também, mas sempre com o mesmo objetivo.
As relações dos filmes são marcados pelo avivamento de sentimentos reprimidos do passado, o que reestabelece a dinâmica da vida de Dolores e Jack, já que agora, ambos irão ter de conviver com renascimento destes sentimentos e com as possíveis consequências de suas ações. Por isso, o filme escolhe ter uma toada mais lenta, mas que em momento nenhum se torna chata, o filme nos dá tempo para analisarmos e entendermos as personalidades de Dolores e Jack, o que basicamente transforma o filme em uma história pela qual somos pegos torcendo pelo desfecho que mais nos agrade.
Em um determinado momento a temática da Guerra ganha a sua importância, com isso a dinâmica narrativa do longa também é alterada, agora Dolores não mais divide espaço de tela tão constantemente com Jack, mas sim com a irmã de Jack, Flury (Mara Bestelli), que até então via as atitudes de Dolores com total reprovação. Outro personagem que ganha destaque nesse momento é Octavio Brand, fazendeiro e filho de alemães, que costuma ir aos cinemas assistir as famosas propagandas nazistas.
Mesmo com muitos personagens em tela, o roteiro consegue ser suave e ao mesmo tempo pontuar excepcionalmente as características marcantes da sua personagem principal. Cada personagem tem o seu momento de desenvolvimento e o roteiro acerta de mão cheia nisso, saímos do cinema, conhecendo minimamente bem todos os personagens centrais da trama. O único pecado talvez seja ter se ambientado na Segunda Guerra Mundial e não ter dado devido valor a alguns elementos expostos, sem conseguir imprimir os mesmo organicamente. As cenas de Octavio nos cinemas acompanhando as propagandas nazistas parecem não ser desse filme, esse pedaço está forçadamente encaixado no filme para tentar nos fazer não esquecer de que o filme se passa durante a Guerra.

Outro pecado grave do filme é a movimentação dos atores. Alguns enquadramentos de câmera são dados em locais pequenos, por isso forçando os atores a estarem muito próximos da câmera, porém isso não é um problema em si, o problema está que pela falta de espaço para a movimentação, os atores andavam roboticamente, com cuidado excessivo que na vida real não teriam e algumas cenas são teatralizadas demais, com a câmera fixa no centro da tela e os atores entrando e saindo do ambiente em questão.
As atuações de Emília Attias e Guilherme Pfenning são complementares, os dois funcionam muito bem juntos, porém com destaque óbvio para a atriz argentina. Mara Bestelli é a mais afetada pela teatralização e isso atrapalha significativamente o seu desempenho. Roberto Brindelli em momento algum parece pertencer ao mesmo universo que os demais. O ator brasileiro Jandir Ferrari também faz uma pequena participação no longa-metragem.
Dolores é um filme que fala de força, escolhas, luto, amores e de como viver em meio a isso tudo e como viver sem se prender em onde suas escolhas poderiam de levar caso fizesse diferente. É uma ótima pedida para quem já ama o cinema argentino e melhor ainda para quem ainda não conhece o trabalho dos nossos hermanos, vale a pena conferir.
NOTA: 7,1
Nome Original: Dolores
Lançamento: 6 de Abril de 2017
Gênero: Romance/Drama/Histórico
Diretor: Juan Dickinson
Roteiro: Juan Dickinson
Distribuirora: Fênix Filmes