Mais uma obra em que o diretor Tim Burton consegue deixar muito nítida a sua assinatura, isso quando falamos em conceito de arte, pois em qualidade o filme deixa a desejar.
O filme é baseado na obra literária de mesmo nome, escrita pelo estadunidense, Ransom Riggs. Antes de qualquer coisa, tenho que deixar claro de que não me baseio em livros para criticar filmes, assim como a recíproca é verdadeira, são formas distintas de arte. Quanto a isso, temos aqui a história do jovem Jake (Asa Butterfield), que após a morte bizarra do seu avô parte para o País de Gales, atendendo assim o último pedido do mesmo. Chegando lá ele espera encontrar Srta. Peregrine (Eva Green) e descobre que a casa onde ela vivia já não existe mais, tudo virou ruína após um ataque de míssil durante a Segunda Guerra Mundial. Porém durante sua investigação, Jake acha uma fenda temporal e encontra a Srta. Peregrine e, além disso, descobre que ela protege crianças peculiares dotadas de poderes especiais.
A apresentação da premissa e a relação familiar já são logo estabelecidas, a relação próxima de Jake com seu avô (Terence Stamp), as questões conturbadas em relação ao modo de como seus pais o criam, toda esta questão é logo apresentada sem maiores embolações.
Assim como em inúmeras obras de Tim Burton o design de produção e de arte são muito bem escolhidos, o tom do filme sempre flutua entre o medonho, com elementos de horror e o aventuresco. Os elementos macabros, a paleta acinzentada de cores e elementos de viagem no tempo são bem utilizados aqui, o que carimba na obra o “selo” Tim Burton.

Infelizmente, tirando o visual, o filme acerta em outros poucos elementos. A narrativa tem um ritmo lento, onde algumas cenas existem apenas para resaltar algo que já tinha sido entendido e associado pelo público. E então quando de fato chega a hora de acelerar e trazer um bom ritmo, a história acelera demais e alguns laços são feitos e coisas acontecem sem maiores explicações . Sem contar a ação que é quase vergonhosa e bem cartoonesca , onde claramente percebe –se de que não há interesse no desenvolvimento da ação, não há emoção expressa ali, falta alma. Adicionado ao problema de ação, o CGI (efeitos introduzidos por computador) é bem sofrível, parece que as criaturas são de plástico e sem peso.
O elenco pelo menos em nome trás conhecidos de quem é fã do cinema de Hollywod, como Samuel L. Jackson, Eva Green, Asa Butterfield e Judi Dench. Mas que munidos e um roteiro previsível e bem monótono pouco tem a fazer. Entretanto a culpa das más atuações não é exclusivamente do roteiro. Asa Butterfield está mais uma vez mecânico demais, apenas reproduz o texto. O mesmo problema acontece com o ator que interpreta o Enoch (Finlay MacMillan) que chama atenção pela forma robótica e automática de falar. Judi Dench tem seu trabalho subjulgado aqui, se resume a poucos minutos em tela. Já Samuel L. Jackson aparece bastante, mas poderia aparecer menos. Ele faz um vilão exagerado que teoricamente poderia por medo, devido ao seu visual um pouco grotesco. Porém a atuação forçada e voltada para o humor, não o deixa nem assustador, nem engraçado. Por várias vezes vimos boas atrizes se destacando com roteiros ruins, e é exatamente o que acontece em O Lar das Crianças Peculiares. Ella Purnel, que interpretou Emma, consegue passar todo o conflito emocional provocado pela condição peculiar de sua personagem, assim como Eva Green, a Srta. Peregrine, ela está ótima, traduz muito bem toda a responsabilidade carregada por ela, com seriedade e a sutileza no olhar de quem ama e se importa com as crianças peculiares.
Partimos então para a direção de Tim Burton. O uso da câmera é questionável, ela fica quase sempre parada, apenas como expectadora, os ângulos deixam partes do enquadramento morto, a falta de ritmo ao filme e principalmente alguns erros de atuação, que poderiam ser corrigidos pelo diretor, fazem O Lar de Crianças Peculiares uma das direções, no mínimo, mais preguiçosas do Tim Burton.
O Lar de Crianças Peculiares tem uma premissa incrível e talvez seu ponto mais forte seja isso, já que todas as crianças presentes no filme têm o seu papel dentro da trama, porém uma direção desleixada, atuações ruins e um roteiro perdido fazem com que essa história magnífica da literatura, não ganhe uma adaptação cinematográfica a sua altura. Uma pena.
Nota: 4,3
Nome original: Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children
Lançamento: 29 de Setembro de 2016
Gênero: Fantasia/Aventura
Direção: Tim Burton
Roteiro: Jane Goldman
Distribuidora: 20th Century Fox