Fazer uma bibliografia de um grande ícone é sempre tarefa muito difícil. Sintetizar toda obra e todas as mágoas, angústias, sucessos de um astro em apenas um filme sempre é tarefa muito complicada. No caso de Elis Regina não poderia ser diferente. Além de todas essas dificuldades, há também uma responsabilidade enorme: Transmitir a fãs e não fãs, a imagem de uma das maiores cantoras de todos os tempos do Brasil.
O roteiro faz uma escolha tradicional em obras bibliográficas, se reduz a trazer os principais momentos da carreira e da vida de Elis, como um breve resumo. Mas não é nada fácil, como já foi citado. Falta tempo em tela para alocar todos esses grandes momentos.
O filme se inicia na chegada de Elis Regina (Andrea Horta) ao Rio de Janeiro. Vinda com seu pai Romeu (Zecarlos Machado), do Rio Grande do Sul, a nossa eterna “Pimentinha” tem um sucesso meteórico. Faz muitas amizades e conquista muitos fãs rapidamente. Um em especial,o compositor Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado), com quem viria ser casar e ter um filho. Estrela da TV, inquieta, intensa e muito talentosa, Elis Regina tem uma carreira marcada pelos altos e baixos.
Devido a toda dificuldade já retratada, o início do filme até a sua metade é marcado por constante sucessão de causa e consequência. Tudo é muito acelerado e cortado, uma cena sempre é precedida pela sua causa e quando aquele fato é fechado, há um corte e uma mudança total da narrativa. Como toda carreira da Elis acontece muito rapidamente, o filme não consegue criar vinculo emocional em cada situação apresentada, elas simplesmente acontecem e são jogadas em tela. Tudo isso causa uma sensação confusa de não entender exatamente o contexto temporal dos fatos, os sucessivos jumps prejudicam bastante o roteiro.
A decisão pela escolha de retratar os melhores momentos foi tornar o filme, muito explicitamente, um material de deleite para os fãs da cantora. Sua consequência, criar uma monotonia confusa aos que pouco sabem ou sabiam da vida dela. Uma edição e montagem confusas tornam o filme compulsivamente acelerado. Tendo apenas uma única subtrama em todo enredo da vida de Elis, apresentado no filme. Toda ambientação é ignorada, tendo somente duas cenas em que o expectador tem a real sensação de se tratar de um filme situado na década de 70.
O final do filme melhora consideravelmente, há mais detalhes, o filme gasta mais tempo em tentar explicar e mostrar os sentimentos da cantora, de como aquilo influenciou suas músicas, porém ainda sim, o roteiro comete erros semelhantes ao início, com edição e montagem sem ritmo.
A direção de Hugo Prata usa muita câmera parada nos diálogos, muitas cenas curtas fazendo jumps enormes deixam o filme esquisito. A melhor coisa talvez seja o bom uso das cenas em que a triz Andrea Horta dubla a voz de Elis Regina. Não que essa tenha sido a melhor escolha, o fato da atriz não cantar de fato, trás uma perda significativa em emoção, porém na maioria das vezes o uso é bem feito e não soa artificial.
Gustavo Machado, que interpreta Ronaldo Bôscoli, tem uma interpretação tipicamente robótica, todo cafajeste tem geralmente uma atuação canastrona. Lúcio Mauro Filho, Caco Ciocler, Rodrigo Pandolfo são bons em seus papeis, o roteiro também não exige deles grandes atuações. O destaque para mim está, além da Andrea Horta, em Julio Andrade (Lennie Dale). Em pouco tempo de tela e com um roteiro pobre, ele consegue passar a importância do seu personagem na carreira de Elis Regina. Voltando a falar de Andrea Horta, ela está impecável em executar os trejeitos, as risadas, o sotaque, mas sua atuação é consideravelmente abalada pelo roteiro raso e acelerado do início do filme.
Infelizmente não temos aqui uma boa bibliografia da nossa Elis, o roteiro e principalmente a montagem do filme, incomodam e deixam a história de uma celebre estrela resumida a fatos e conseqüências. Potencialmente, o filme mostra que poderia ser melhor do que foi, talvez centrar em apenas um arco emocional dela, ou um só momento artístico seria mais viável.
Nota: 4,4
Lançamento: 24 de novembro de 2016
Gênero: Drama/Bibliografia
Diretor: Hugo Prata
Roteiro: Hugo Prata/Vera Egito/Luis Bolognesi
Distribuidora: DOWNTOWN FILMES