Depois de 35 anos de lançamento do filme Blade Runner (1982), chega aos cinemas sua sequência estrelada por Ryan Gosling. Nomeado Blade Runner 2049, o filme retoma a questão da ameaça replicante. Se você não assistiu ou não lembra muito bem do original, fica tranquilo, o filme começa com um letreiro explicativo, relembrando um pouco, de forma geral o primeiro filme e também explicando o cenário atual da sociedade.
A história se passa após os acontecimentos em 2019. Devido a alguma mutação os replicantes voltam a se tornar uma ameaça. Não porque eles agora atacam humanos, mas porque isto gerou uma mudança no conceito de diferenciação entre humanos e replicantes. Niander Wallace (Jared Leto) é o Dono/Presidente da nova empresa que produz os replicantes, e ele tem um interesse enorme em descobrir o porquê dessa evolução repentina dos mesmos.

O filme apresenta, assim como no primeiro, algumas questões filosóficas e sociológicas interessantes. Logo de início somos introduzidos ao personagem “K”, o Blade Runner interpretado por Gosling, e, a partir daí somos guiados por suas convicções. Porém, há um twist envolvendo o personagem, que levam a questionar a relatividade do que é real. Outra questão abordada é a da necessidade inerente de nós humanos em nos sentirmos especiais. A gente precisa de algo que nos faça destacar da multidão. Isso é trabalhado dentro do filme de forma interessante.
Há também uma questão social incluindo a personagem Joi (Ana de Armas), que mostra a necessidade que temos em ter a interação social e quanto à fisicalidade, ou seja, a presença de um corpo é importante para isso. E essa mensagem é reforçada com uma das cenas mais legais que eu vi esse ano.
O filme tem uma cenografia bem interessante, mas que não é nem de perto tão explorada como no primeiro. Não há tanto detalhamento aqui. Os grandes letreiros luminosos ainda estão lá presentes, mas sem tanta importância para a construção narrativa e visual da história, a exceção de uma única vez na qual ela é usada para reforçar algo que o filme disse na cena anterior.

Entre os personagens, Wallace deixa muito a decepcionar pelo pouco desenvolvimento do seu potencial. Luv (Sylvia Hoeks), que é na verdade uma funcionária dele, ganha um pouco mais de ênfase e deixa bem claro, em alguns momentos, que está agindo por vontade própria. Isso fica bem inconsistente, já que o filme o apresenta como excêntrico, metódico e até um pouco sóbrio, mas não, fraquinho, talvez até deixando espaço para mais desenvolvimento num terceiro filme.
As 2 horas e 43 minutos do filme não me incomodaram, mas devido ao ritmo lento, bem característico do diretor, é compreensível que o filme possa cansar algumas pessoas. Porém, o filme quer reforçar questões sociais e inerentes ao comportamento humano, que mesmo que não sejam novidade nenhuma, é algo pelo qual não paramos para pensar o tempo todo. E ele faz um uso ou outro de cenas para reforçar tal coisa. O diretor Denis Villeneuve se faz presente através de sua movimentação de câmera bem característica, do uso de enquadramentos praticamente monocromáticos e de uma constância emocional que aí talvez seja um dos defeitos do filme. Ele varia e te atrai emocionalmente poucas vezes, há um ou dois momentos que os olhos se abrem e você fica interessadíssimo no que está acontecendo.

A trilha sonora, composta pelo Hans Zimmer, gênio do cinema, e pelo Benjamin Wallfisch, é bem diferente do original. Na verdade, há aqui vários momentos de silêncio, que tentam trazer uma crueza bem fidedigna com as situações em tela, e quando a música entra enriquece e harmoniza tudo muito bem. Um trabalho bem interessante para não se parecer demais e nem imitar a trilha original, que é maravilhosa.
Blade Runner 2049 é um filme com pouco potencial comercial, mas que deve fazer uma boa bilheteria, porque junta fatores como nostalgia, um diretor popular e um elenco de peso. É um bom filme, que não traz reflexões tão grandiosas como o primeiro, mas que mesmo assim cumpre o seu papel. Um visual menos explorado, mas o que dá tempo e foca na relação replicante x humano, e nos faz entender um pouco mais dessa dinâmica. E novamente conta com um final, que nos dá uma certeza, mas ao mesmo tempo ficamos com aquele famoso “Será? ”.
Título Original: Blade Runner 2049
Lançamento: 05 de outubro de 2017
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Hampton Fancher, Michael Green
Gênero: Ficção Científica
Distribuição: Sony Pictures