A Disney mais uma vez nos traz uma adaptação em live-action das suas principais histórias infantis, popularizadas como animações. O lançamento de quatro outros filmes antes de “A Bela e a Fera”, deu a Disney certa robustez perante os críticos e também financeira. Por mais que os filmes tenham qualidades diferentes, os live-action’s da Disney faturam muito bem para o Studio. “Alice no país das maravilhas” (2010) e Malévola (2014) bateram individualmente a marca de 1 Bilhão de dólares mundo a fora.
“A Bela e a Fera”, animação original de 1991, é a fantástica jornada de Bela, uma jovem linda, brilhante e independente que é aprisionada pela Fera em seu castelo. Apesar de seus medos, ela se torna amiga dos serviçais encantados e aprende a enxergar além do exterior horrendo da Fera e percebe o coração gentil do verdadeiro Príncipe que existe em seu interior. No elenco do filme estão: Emma Watson como Bela; Dan Stevens como a Fera; Luke Evans como Gaston, o belo, mas superficial camponês que corteja Bela; Kevin Kline como Maurice, pai de Bela; Josh Gad como Le Fou, o lacaio sofredor de Gaston; Ewan McGregor como Lumière, o candelabro; Gugu Mbatha-Raw como Plumette, o espanador de penas; Ian McKellen como Horloge, o relógio; e Emma Thompson como o bule de chá.

Como a própria sinopse diz, o filme traz uma Bela independente, onde enxergamos claramente uma proposta feminista, já que ao invés de procurar um bom marido, ela procura um bom livro para ler. E ainda sim, é julgada por querer ensinar a leitura a outras meninas. Outras temáticas sociais bem presentes em comentários sobre o filme é a Zoofilia, que passa longe do filme. É claro que se analisarmos friamente o conceito, podemos sim levar para esse lado, mas sabemos que esse nunca foi o intuito dos criadores da animação, lá em 1991. Sobre a Síndrome de Estocolmo: Confesso que essa me incomoda um pouco mais na animação, porém na adaptação em Live-Action, o aprisionamento de Bela ganha outro viés, não caracterizando a relação dela com a Fera pela tal síndrome.
Recentemente fomos brindados com o filme La La Land – Cantando Estações (2016), um musical belíssimo, porém “acusado” de ter poucas musicas. “A Bela e a Fera” é um prato cheio para quem gosta de canções. Existem pelo menos dez músicas ao longo do filme todo, porém diferente de La La Land ou de outros musicais, as músicas não são suspensões no tempo e espaço, aqui elas funcionam para impulsionar a narrativa, apresentar personagens e justificar ações. Por exemplo, o personagem Gaston, interpretado pelo Luke Evans, é totalmente apresentado em uma canção, não só quem ele é, mas como ele é, o que ele quer, e como ele pretende ter o que quer. São canções absolutamente fantásticas, quase sempre muito bem interpretadas, com o destaque óbvio para a música “Beauty and the Beast”, cantada pela Emma Thompson.

O Design de Arte é bastante competente, os figurinos são deslumbrantes, os cenários muito bem compostos, uma fotografia lustrosa e brilhante. As tonalidades usadas ajudam a entender o filme. Quando Bela está feliz, temos mais tons vermelhos, laranjas e amarelos, quando a tristeza a abate, tons mais azulados e cinzas entram em cena, tornando tudo um espetáculo visual.
Infelizmente o filme constrói algo intimamente belo, porém sem alma. O roteiro é simplista demais, as motivações dos personagens são fragilizadas por pouco tempo de desenvolvimento. O elenco humano cria pouca química entre si, e mesmo com relativo desenvolvimento sobre os personagens enfeitiçados, o filme nos dá pouco material para nos apegarmos emocionalmente com ele. Falta verdade no olhar, falta vibração, tudo é muito bonito, você sente estar assistindo algo belo, porém não se sente tocado no coração.
Eis aqui, muito provavelmente a mais fiel adaptação que a Disney já fez. Digo isso em termos visuais. Os figurinos, os objetos, a decoração é exatamente a mesma que a animação usa. O que cria um tom saudosista, mas poderia atrapalhar, caso não fosse dosado na medida certa. A fidelidade é enorme, vai desde grandes momentos, como a famosa valsa, até pequenos detalhes e piadas feitas pelos personagens.
O maior mérito do diretor Bill Condon foi claramente criar um universo crível visualmente e muito belo, e também de ter feito com que as inúmeras músicas se encaixassem dentro do pobre roteiro. Sem monotonia musical e sem estranhamento, elas são leves e fluidas dentro da trama.
A Emma Watson apresenta uma Bela vivaz, alegre, dona de si, completamente amável e parceira do pai. A doçura da atriz, já conhecida do público desde a época de bruxinha em Harry Potter, funciona muito bem para a personagem, há uma interessante composição entre a princesa e a mulher moderna. Dan Stevens nos dá uma Fera divertida, engraçada, e mesmo atuando boa parte como CGI, o ator consegue entregar boas expressões, talvez o uso de maquiagem nos desse mais credibilidade emocional. Já o Luke Evans entende muito bem o personagem, porém é levemente prejudicado pelo roteiro e soa caricato demais em alguns momentos. Os atores que dublam os objetos animados têm um trabalho muito competente, porém quando assumem sua forma humana, mesmo que por pouco tempo soam insuportáveis.

Luke Evans idêntico ao Gaston
O grande destaque em atuação está no Josh Gad, que interpreta Le Fou, personagem declaradamente gay, e alvo de críticas de grupos mais conservadores. A minha única resposta para isso é: Ainda bem que o mantiveram no filme. Josh Gad tem um tempo cômico maravilhoso, ele é impecável, com trejeitos, caras e bocas, ótimas piadas feitas em momentos certos. Não há polêmica, apenas um ótimo personagem e um ótimo ator.
“A Bela e a Fera” é um musical muito bonito, porém de rostinhos bonitos o mundo já está cheio. Caso você queira apenas estética, vá ao cinema e se delicie, mas caso busque algo a mais, poderá se decepcionar.
NOTA: 6,4
Nome Original: Beauty and the Beast
Lançamento: 16 de Março de 2017
Gênero: Musical em Live-Action
Diretor: Bill Condon
Roteiro: Evan Spiliotopoulos / Stephen Chbosky / Bill Condon
Trilha Sonora: Alan Menken
Distribuidora: Walt Disney Studios